sábado, 27 de novembro de 2010

Memória








Conceito de Memória


“O tempo da memória se furta à ordem das lembranças. Presa na cilada da nostalgia, a evocação se perde na repetição obsessiva das cenas e da linguagem perdida. As palavras do velho que se esforça em lutar contra o enfraquecimento de sua memória (...)”[1]
“Ao querer conservar o idêntico, a memória se consagra pela repetição do mesmo até a saciedade de sua restituição” [2]

Ao se falar em memória, hoje, são muitos os trabalhos que tratam do assunto. A preocupação com a preservação da memória histórica e consecutivamente a preservação do patrimônio cultural.
Mas antes de se falar da preservação da memória é preciso entender a relação memória/história que ao longo dos tempos as idéias acabaram se distanciando. Segundo CLÁUDIA MONTALVÃO[3] essa relação chegaria ao fim a partir do século XVI e a supervalorização do homem e da escrita que fez nascer um novo conceito de História que abandonaria o conceito da Grécia Antiga que fazia uma relação direta entre memória e história.
Para entender a diferença entre Memória e História a autora CIRCE BITTENCOURT[4] distingue memória e História. A memória realiza omissões, funciona pela seleção e eliminação de lembranças, já a História trabalha com a acumulação dessa memória, confronta as memórias individuais e coletivas e usa um método para recompor os dados da memória. A principal distinção é que a história necessita de um método para ser feita, já a memória funciona de acordo com as recordações do indivíduo, mas as duas deveriam coexistir.
Além de está diretamente ligada a História, a preservação do patrimônio cultural a memória é a base também a para o surgimento da identidade social. Segundo MICHAEL POLLAK[5] a formação da identidade tem relação direta com a memória, sendo assim a memória é constituída por pessoas, personagens. Além dos acontecimentos e das personagens, temos os lugares.
Os Lugares de memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico[6]
A Feira de São Cristovão é um lugar de memória, onde o Nordeste permanece muito forte na memória das pessoas, muito marcante, independente da data real em que a vivência se deu. Na memória mais, pública, nos aspectos mais públicos da pessoa, pode haver lugares de apoio da memória, são lugares de comemoração, sendo assim o lugar se torna formado da memória. Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais se apropriam da mesma idéia a qual é um dos objetivos a serem atingidos por esse trabalho.
O conceito de memória não será desenvolvido em sala de aula, mas é importante que o professor tenha uma definição própria para aplicar e objetivar sua aula.

 Pressupostos teóricos Pedagógicos.

Antes mesmo de refletirmos sobre a relevância pedagógica deste projeto é necessário refletirmos sobre a importância do ensino de História nas escolas. Levando-se em consideração o tempo em que vivemos, onde a escola não é mais um local apenas de instrução e sim de educação, a escola está ocupando o lugar dos pais na construção do ser crítico do aluno, está situação ocorre principalmente nas grandes metrópoles. Tal situação pode ser notada nitidamente ao vivermos o cotidiano de uma escola.
O projeto desenvolvido tem como objetivo participar desse novo modo de educar, onde os alunos aprendem muito mais que conteúdos, os alunos devem aprender e compreender os conceitos que o ajudaram a construir seres pensantes, reflexivos e críticos que os professores, principalmente, os de ciências humanas procuram construir em sala de aula.
Através das palavras de FERNANDO SEFFNER[7] é que compreendemos o porquê de Ensinar História e as deficiências deste ensino.

“Ensinar História na escola é, fundamentalmente, ensinar elementos de teoria e metodologia, não só de História, mas das Ciências Humanas, quanto mais não seja porque, na arrasadora maioria das escolas deste país, é somente na disciplina de História, e parcialmente na de Geografia, que o aluno poderá ter contato com a produção de conhecimento das humanidades. Um professor de História, mais do que ensinar datas e fatos (que são importantes, mas não devem constituir-se na razão única do ensino de História na escola), é alguém que coloca o aluno em contato com os processos de construção/reconstrução do passado, ou, em outras palavras, abre um diálogo acerca do presente valendo-se das reinterpretações a que é submetida à produção do conhecimento histórico”[8].

O autor em seu trabalho reflete sobre a falta de Teoria e Metodologia, apontando a deficiência nos cursos de licenciatura. Mesmo com esse problema no ensino de História, FERNANDO SEFFNER, demonstra diversas formas de suprir essa deficiência e assim transformar a sala de em um lugar de reflexão.
A reflexão obtida em sala é a responsável por contribuir na construção do ser histórico, um indivíduo pensante, crítico e reflexivo objetivos a serem alcançados pelo ensino de História, os quais podem ser encontrados nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
A falta de metodologia é muito encontrada nos dias de hoje por uma maioria de professores que transformaram a sala de aula em uma espécie de mercado vendendo sua aula e seu conhecimento o máximo possível. As palavras do professor UBIRATAN ROCHA[9] são nos fazem pensar na complexidade e responsabilidade encontrada no ensino de História. A busca por um ser crítico pode ter conseqüência contrária e acabar alienando os alunos com a famosa História decoreba, feita de repetições e sem a preocupação de se enquadrar no perfil do público.

“No entendimento de um grande número de pessoas, dar aula de História é algo muito simples de se fazer. Poucos se apercebem, entretanto, das inúmeras questões teóricas e ideológicas presentes a cada passo da narrativa histórica. Às vezes nem mesmo o próprio professor, habituado como está a repetir o mesmo assunto em diferentes turmas, se dá conta de que o caminho discursivo que segue é apenas um dentre diferentes alternativas possíveis de serem trilhadas. É comum, também, o professor esquecer que as pesquisas históricas e ensino de história são, eles próprios, históricos já que tentam responder a questões colocadas num determinado contexto, lugar e época. São conhecimentos que não estão à margem da sociedade e que não são, portanto, neutros.”[10]



Os conhecimentos históricos não são e nem devem neutros, nós professores devemos ter o cuidado com o perfil de cada turma, e, em alguns casos até mesmo de cada, ou alguns indivíduos.
Feita a reflexão sobre o ensino de História, é o momento de pensarmos sobre a relevância pedagógica deste projeto, o qual desenvolve teoria e metodologia em sala de aula proporcionando um ensino reflexivo. Além disso, o trabalho na Feira de São Cristóvão no ensino de História ta sendo aqui considerado como uma nova metodologia.
Além da Feira de São Cristóvão, este projeto levanta conceitos inovadores para o ensino de História, como o de Identidade que nos faz refletir sobre o estudo do meio que permite um trabalho de interdisciplinaridade entre História e Geografia. Todos esses conceitos são discutidos pela professora CIRCE BITTENCOURT em seu livro Ensino de História: Fundamentos e métodos[11] e em outro título organizado pela a autora O Saber Histórico na Sala de Aula[12]. Os títulos refletem, entre outros assuntos, sobre novas metodologias entre elas mídia, tecnologia e também museus.
Dessa forma às questões levantadas no inicio deste texto devem ser respondidas nas primeiras aulas, pois assim os alunos compreenderão os temas históricos com maior facilidade e não apenas com uma sucessão de fatos.
É esse o papel que a Feira de São Cristóvão deve ter no ensino de história. E não apenas o de concretizar o que está sendo estudado em sala de aula[13], a Feira de São Cristóvão deve ser um lugar que crie questionamentos, o aluno deve voltar com mais dúvidas – curiosidades - do que certezas.
Para fazer uma História diferente em sala de aula o professor não pode ser barrado pelas dificuldades encontradas, mas deve está preparado para ultrapassar essas barreiras e tornar seu aluno em um ser pensante e indagador.


[1] JEUDY, Henri-Pierre. Memórias do Social. Forense Universitária. RJ. 1990 (Coleção Ensaio e Teoria)
P.143
[2] Idem. Pag.32.
[3] MONTALVÃO, Cláudia S. A. “Visualizando o Passado: Museu e História”. Coleções Museus e História, artigo solicitado pelos editores e entregue para publicação em 2003.
[4] BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos.São Paulo.Cortez, 2004. p.170
[5] POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
[6] Idem, pag. 29.
[7] SEFFNER, Fernando. “Teoria, Metodologia e Ensino de História” In: Guazzelli, César A.B. Questões de Teoria e Metodologia da História. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Neste trabalho o autor questiona a falta de teoria e metodologia em sala de aula, o autor exemplifica como aplicá-las (teoria e metodologia) no ensino de História, fazendo da sala de aula um lugar de reflexão – proposta levanta pelo projeto desenvolvido.
[8] Idem p.260
[9] ROCHA, Ubiratan. “Reconstruindo a História a partir do Imaginário do Aluno”. In: NIKITIUK, Sônia Leite. (Org) Repensando o Ensino de História. São Paulo, Cortez, 1996 p.47
[10]ROCHA, Ubiratan. “Reconstruindo a História a partir do Imaginário do Aluno”. In: NIKITIUK, Sônia Leite. (Org) Repensando o Ensino de História. São Paulo, Cortez, 1996 p.47
[11] BITTENCOURTT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo.Cortez, 2004.
[12] BITTENCOURT, Circe M.F. (org) O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo.Contexto 1997 trás dois artigos usados neste projeto são eles: ORIÁ, Ricardo. “Memória e Ensino de História”; ALMEIDA, Adriana M; Vasconcellos, Camilo de Mello. “Por Que Visitar Museus?”
[13] BITTENCOURTT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo.Cortez, 2004.
[13] BITTENCOURT, Circe M.F. (org) O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo.Contexto 1997 trás dois artigos usados neste projeto são eles: ORIÁ, Ricardo. “Memória e Ensino de História”; ALMEIDA, Adriana M; Vasconcellos, Camilo de Mello. “Por Que Visitar Museus? ”
[13] BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e métodos. São Paulo.Cortez, 2004.p.357

Nenhum comentário:

Postar um comentário